quinta-feira, janeiro 27, 2011

Mas e meus R$ 63?


Não sei se o fiel leitor do Finanças e Ciladas – se tá lendo é fiel mesmo, até porque não escrevo há séculos – está acompanhando essa discussão da cobrança a mais nas contas de luz de 2002 a 2009. Para que você possa entender, vou resumir de uma forma bem simplista (me perdoem os especialistas do setor): a metodologia de reajuste tarifário anual nesse intervalo de tempo não previa o repasse para o consumidor (eu, tu, eles) dos benefícios obtidos pelas distribuidoras (Light, Ampla, Eletropaulo, etc) com o aumento do número de clientes – se um transformador atendia um cliente e no dia seguinte passa a atender dois sem necessidade de investimento extra, o custo de fornecimento unitário cai e distribuidora embolsa, certo?
No ano passado, o Tribunal de Contas da União (TCU) “descobriu” isso. A conta: R$ 7 bilhões (R$ 12 bilhões, corrigidos) cobrados a mais de 2002 a 2009 e embolsados pelas distribuidoras. E mandou a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) rever a metodologia para que o consumidor possa ser beneficiado pelo aumento do número de clientes. A Aneel reviu a metodologia e passou a incorporá-la nos novos reajustes.
Mas e os nossos R$ 7 bilhões (R$ 12 bilhões)? Fazendo uma conta rasa, cada um de nós 190 milhões de consumidores deveria ser ressarcido em R$ 63. Lógico que a conta não é essa, mas é só pra efeito ilustrativo.
Um grupo de deputados resolveu  brigar por essa ninharia. E pediu que a Aneel analisasse novamente a legalidade dos reajustes entre 2002 e 2009 e que obrigasse as distribuidoras a devolver a grana. A Aneel negou o pedido e ficamos todos a ver navios (se tiver luz, é lógico).
Aqui abro um parênteses conclusivo para o argumento final do texto. As distribuidoras não repassavam o benefício ao consumidor porque NÃO ESTAVA PREVISTO EM CONTRATO DE CONCESSÃO. Logo, elas cumpriram o contrato a risca (lógico que elas sabiam do ganho que tinhaM, mas se o contrato não previa, porque repassariam?). Portanto, elas não têm de devolver nada. Fizeram tudo dentro da mais absoluta legalidade e não há o que se questionar.
Mas e os meus R$ 63? Perdi playboy?
Ao que tudo indica, sim. Mas se alguém tem que devolver esses R$ 12 bilhões à população, é a União, que foi quem, em primeira instância, concedeu um serviço público com um contrato que lesa o consumidor de energia.
Acho que os deputados têm de voltar sua artilharia para a Casa ao lado, no caso, o Executivo, a União, a Viúva (não, a presidente Dilma não é viúva, só é divorciada). A União é que deveria devolver esses bilhões para o povo.
Mas eu, se fosse vc, não fazia planos com essa grana para o fim de semana.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Quando a saúde o bolso andam juntos


Aqui na empresa, o chefe baixou ontem uma norma que proíbe os fumantes de exercerem seu vício mesmo dentro do "fumódromo", que era uma área próxima à escadaria do prédio. A proibição veio a reboque da lei 5.517/2009, que proíbe o fumo em locais fechados.

Passando longe de opinar se essa lei é ou não arbitrária demais, queria deixar aqui um registro financeiro: se este regulamento, de fato, desestimular as pessoas a fumar – aqui no prédio, perde-se um bom tempo para ir lá embaixo, onde é permitido – a economia anual que o fumante de um maço por dia pode fazer chega a quase R$ 1.000. Em cinco anos, seria possível juntar pouco mais de R$ 5 mil, levando em consideração os juros da Selic. Em 10 anos, cerca de 12 mil.

Os benefícios a longo prazo são ainda maiores. Parando de fumar, a tendência é que o ex-fumante precise recorrer menos a médicos e remédios ao longo da vida. Tenho um exemplo em casa - meu pai - que se não fosse a ajuda do Estado, estaria gastando certamente mais de R$ 2 mil por mês com remédios e aluguel de oxigênio. Em tempo, meu pai tem DPOC, doença causada pelo cigarro.

Fica aí a dica de saúde e financeira.

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Números e coração

Desde que comecei a escrever neste espaço muita coisa mudou na minha vida financeira. E depois de tentar passar algo para os meus leitores, acabei vendo que ainda tinha muito o que aprender. E que, às vezes, é simples ensinar, dar dicas, mas na hora de tomar as próprias decisões financeiras, acabamos levando em consideração não somente a frieza dos números, mas todo o contexto em que estamos vivendo naquele momento.

Um exemplo prático. No início deste ano deccidi finalmente comprar o meu tão sonhado apartamento. Fiz e refiz as contas e vi que a prestação caberia no meu bolso e ainda sobraria algum. Financeiramente, o certo seria eu ter esperado, primeiro a crise financeira passar, depois juntar todo o dinheiro para dar à vista. Mas quanto tempo eu teria de esperar por isso? E o sacrifício de ir todo dia da Zona Oeste ao centro do Rio com nosso caótico transporte público?

Se eu tivesse colocado na ponta do lápis, continuaria lá em Realengo por mais uns bons anos, com uma boa sobra de dinheiro no final do mês, mas vivendo aquele cansaço diário do deslocamento casa-trabalho-casa.

Arrisquei e hoje estou feliz com a compra que fiz. Chego no trabalho em 30 minutos e tenho mais tempo para fazer as coisas. Até dormir mais tarde, como adoro, eu posso.

Mas mesmo arriscando, fiz muita conta antes. Mantendo o padrão de vida, os gastos não podiam ultrapassar a soma total do meu salário. E não passaram. Mas nesse meio tempo tive que fazer obras no apartamento novo. E aí sim a coisa complicou. Portanto, quando comprar um apartamento, sempre leve em consideração o montante que será necessário para fazer reformas. Geralmente, o orçamento estoura e você acaba gastando muito mais do que previu. Então, fique ligado.

Quando for comprar um imóvel, leve também em consideração o preço do condomínio. Tem uma conta simples de fazer que você traz a valores de hoje a cota do condomínio que vc pagará pelo resto da vida. Pegue o valor do condomínio e multiplique por 12 meses. O valor encontrado é dividido pela taxa Selic atual menos a previsão de inflação. O valor encontrado você soma ao preço do imóvel, para saber o real valor do mesmo.

Ex:

Preço do imóvel (p) = R$ 200 mil
Condomínio (c)= R$ 600
Taxa selic (s) = 8,5% = 0,085
Inflação prevista (i) = 3,5% = 0,035

Então temos =  c*12/(s-i) = 600x12/(0,085-0,035) = 7200/0,050 = 144.000

Portanto, na verdade voce nao está comprando um apartamento de R$ 200 mil, mas sim de R$ 344 mil. Isso é extremamente útil se você está comparando o preço de uma casa (sem condomínio) com um prédio. Leve em conta, no entanto, que nas casas há um gasto anual de manutenção externa, além da conta de água. Se tiver piscina então, o gasto é grande. Não tenho elementos para dizer de quanto é esse gasto. Mas se vc sabe, aplique a fórmula acima para poder comparar os dois imóveis. A má notícia é que essa conta só vale para quem está comprando, nunca para quem está vendendo.

No próximo post, pretendo falar um pouco da minha volta, depois de um ano à renda fixa.

Um abraço a todos.

quarta-feira, setembro 02, 2009

O pré-sal e seu bolso

O governo apresentou na segunda-feira em tom extremamente nacionalista os projetos de lei que enviará ao Congresso para a criação de um conjunto de regras para a exploração petrolífera das áreas marítimas chamadas de pré-sal. Os PLs serão discutidos pelo Congresso nos próximos meses. Em linhas gerais, a ideia do governo é garantir uma participação mínima da Petrobras em todas as áreas do pré-sal, aumentar o capital da empresa, aumentar o controle do que será produzido nessas áreas e aumentar a fatia a que tem direito decorrente da produção de petróleo nessas áreas. Ao aumentar sua arrecadação, o governo prega que destinará esses recursos à educação, saúde, pobreza (bolsa família)

E como isso mexe com o seu bolso?

Se você tem ações da Petrobras, até a aprovação dos PLs e do início da produção dos primeiros campos sob o novo regime de partilha, espere muita volatilidade. Os analistas de mercado estão receosos com relação à capacidade de investimento da petroleira nos projetos, à perda de competitvidade de fornecedores (porque a Petrobras será operadora única) e à forma como o governo injetará capital na empresa.

Se você é um cidadão comum, no curto prazo, nada muda. As primeiras áreas ainda não concedidas do pré-sal só estarão produzindo – e rendendo dividendos ao país – para lá de 2020.

A gasolina também não deve baixar de preço. Até onde se sabe, não viraremos uma Venezuela. O monopólio estatal não foi restituído. Cada vez mais, a tendência é que os derivados do petróleo sigam a cotação internacional, já que um dos pilares do novo marco regulatório prevê que se torne exportador de derivados e não de petróleo cru.

Portanto, não espere mudanças significativas em sua vida no curto prazo. Fica só a esperança que os recursos a serem arrecadados pelo governo sejam aplicados em educação, que é a base sólida para qualquer país do mundo que tenha a mínima aspiração de ser uma potência econômica em nível global.

quarta-feira, agosto 26, 2009

Voltando ao mercado

Primeiramente, gostaria de pedir desculpas aos leitores que abandonei nestes praticamente 12 meses longe do Finanças e Ciladas. Faltou-me tempo e, confesso, estímulo, para continuar a escrever por aqui.

Hoje, contudo, volto para relembrar o que escrevi dois posts abaixo, sobre a queda no mercado de ações diante da crise financeira mundial. Destaco alguns tópicos:

-Vender ou não vender: naquele momento, com a queda, muita gente saiu correndo do mercado de ações e admitiu as perdas. Quem esperou, já está sendo premiado. O mercado se recuperou (ainda não totalmente) e ainda pode se recuperar mais. É certo, contudo, que a recuperação, se houver, será lenta e gradual.

-Comprar ações na baixa: na ocasião, eu disse que era um bom momento para comprar ações (o fundo do poço do mercado foi mais ou menos em novembro do ano passado). Quem comprou forte naqueles dias, já pode ter visto seu patrimônio crescer quase 90%. Este é o caso, das ações da Petrobras, que, desde novembro do ano passado até hoje, já ganharam 87%. Maravilha não?

Fica aí então duas lições comprovadamente boas para adotar estratégias para o mercado de ações nos próximos anos.

Continuo então recomendando aos investidores que têm um horizonte de investimento de mais de 10 anos que continuem a investir neste mercado.

Um abraço a todos.