domingo, agosto 26, 2007

21ª edição - Financiamento de veículos

Uma matéria no caderno de automóveis do jornal O Globo da semana passada é bastante ilustrativa sobre o poder dos juros, para o mal ou para o bem. A matéria denuncia uma prática que as agências de automóveis, orientadas pelas financeiras, vêm seguindo já há algum tempo no Brasil.

Trata-se de colocar um fator – conhecido como fator R – nos juros cobrados aos clientes pela compra dos veículos. Em resumo, quanto mais fácil for vender um veículo ou quanto menos benefícios obtiver o cliente, maior o fator colocado em cima dos juros. Com isso, as taxas variam de 0,99% a 1,89% ao mês.

Na prática, o vendedor coloca de cara o fator R mais alto e vai diminuindo conforme o cliente pesquisa ou barganha preços.

Vamos a um exemplo de um carro usado de R$ 15 mil, financiado em 60 meses, como é muito comum por aí. Com a taxa máxima, ou seja o fator R mais alto, as prestações saem por R$ 420 (!). Com a mínima, R$ 332. Uma diferença de R$ 87, que aplicados a juros de poupança dão no final do período R$ 6,2 mil. Quase metade do valor do carro (!!).

Não se esqueça que nessa operação você desembolsou R$ 25,2 mil no primeiro caso e R$ 19,9 mil no segundo.

Mas agora vem a melhor parte. Se a compra for bem planejada, é só colocar R$ 584 mensalmente durante dois anos na poupança e você compra este mesmo carrinho, tendo que aplicar na prática R$ 14 mil, ou seja, R$ 1 mil a menos do que o valor do carro. Os outros R$ 1mil os juros te dão.

Por isso, em primeiro lugar, antes de comprar procure se informar sobre a taxa de juros. Tente sempre a menor possível Mas tenha em mente que o prêmio pela espera pode ser altamente recompensador. Por isso, vale a pena ser organizado. E isso não é ser pão duro. É ser inteligente.

Uma boa semana a todos.

domingo, agosto 05, 2007

20ª edição - Colocar ou não GNV?

Até que ponto vale a pena converter o seu veículo para usar Gás Natural Veicular (GNV)? As pessoas tendem a achar que estão sempre fazendo bom negócio quando convertem seus veículos, em função do preço do gás e do desconto de 74% dado no Imposto sobre Veículos Automotores (IPVA). Nem sempre isso ocorre. O Finanças e Ciladas vai ajudar você a decidir.

Primeiro você tem de saber a quilometragem média percorrida por mês. Fizemos várias simulações com o gasto que se teria com um Uno Mille zero km a gasolina e outro convertido para o GNV. Levamos em consideração um IPVA de R$ 1.071 para o carro a gasolina e R$ 411,29 para o carro equipado com o GNV. Anualizamos esse gasto, como se o proprietário do veículo colocasse todo mês uma quantia na poupança para pagar o imposto a vista ao final de 12 meses. No caso do carro a gasolina seriam R$ 87 mensais, no do GNV, R$ 33. O consumo de gasolina do Uno é de 12 km/l e o de gás 13 km/m3.

Levamos em conta ainda a instalação de um kit de GNV, que sai nas lojas do Rio de Janeiro por R$ 2 mil em média. Fizemos a instalação financiando o valor em 18 vezes, que nos deu prestações de R$ 171, e a vista.

Vamos aos resultados. Durante o período de pagamento das prestações, não importa a quilometragem – de 100 a 900 km mensais – você sempre irá gastar mais mensalmente depois da instalação do kit gás. Basicamente por conta das prestações de R$ 171, calculadas num financiamento com juros de 5% ao mês. Na melhor das hipóteses, andando 900 km por mês, com o GNV você ainda gastaria R$ 16 a mais por mês. Andando só 100 km, gastaria R$ 107 a mais com o gás.

No exemplo em que o motorista percorre 900 km mensais, os R$ 16 durante os 18 meses a juros de poupança vale no fim do pagamento das prestações R$ 302. Esse valor é recuperado em mais dois meses com a economia de R$ 150 aproximados. Mas para quem anda os 100 km mensais, o valor gasto a mais no período das prestações é no fim das contas R$ 2 mil aproximadamente. Para recuperar esse valor com a economia mensal de R$ 64 após o pagamento das prestações, o proprietário do veículo vai precisar de mais 30 meses. Ou seja, quatro anos para recuperar todo o investimento. Um caso, intermediário, 450 km/mês, gera um passivo de R$ 1,2 mil, que se recupera em 19 meses com a economia mensal após o pagamento das prestações. Ou seja, ao todo três anos e um mês.

Se você já têm o dinheiro e resolver pagar a vista, as contas podem ficar a seu favor mais rápido. Andando 100 km por mês, há uma economia de R$ 64 mensais com o uso do gás. Mas para que esse investimento compense os R$ 2 mil investidos no kit, serão necessários nada menos do que 29 meses aplicando mensalmente a economia na poupança. Para quem anda 500 km/mês, a economia é de R$ 109 mensais, que dá pra reverter em 16 meses aproximadamente. Para quem anda 900 km mês, em 8 meses dá pra reverter o investimento e passa a ganhar.

A conclusão é: se você tem o dinheiro a vista ou pode pagar em algumas poucas vezes sem juros, a instalação do kit gás pode retornar de 8 a 29 meses, um tempo bem razoável. Mas se você vai entrar num caro financiamento para bancar a instalação do kit , é melhor continuar usando a gasolina, pois o investimentos pode demorar até 4 anos para retornar. Você está disposto a esperar isso tudo?

Não fizemos a simulação para um carro a álcool pra não complicar ainda mais a vida do gás e nem contamos que a manutenção do veículo com gás natural é sempre mais cara. O desgaste de algumas peças é bem mais rápido.

Enfim, use a cabeça antes de decidir converter o seu carro. Uma boa semana a todos.

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